28/12/2014

2.A sociabilidade como virtude

SÃO PAULO APÓSTOLO: 24Ninguém procure satisfazer aos seus próprios interesses, mas os do próximo (1 Cor 10,24).

BEM-AVENTURADO TIAGO ALBERIONE: A sociabilidade é, portanto, virtude de todos e para com todos. Esta é particularmente necessária a quem vive em comunidade; mas possui também um campo larguíssimo, tão largo quanto o nosso apostolado, tão largo quanto a nação, tão largo quanto estendida é a Igreja, tão largo quanto numerosa é a humanidade.

REFLEXÃO: Saber viver com s outros, o mister de sermos humanos, como diziam os antigos, é a disciplina mais difícil de aprender, e nunca a aprendemos de uma vez por todas. Não existe uma idade em que possamos dizer: agora chega, assim está bem. Como todas as disciplinas, esta também, em algum ponto do seu longo e rigoroso percurso, se transforma em arte, a arte refinada do caminhar juntos, na alegria simples do encontro, de ter em comum tantas coisas, de viver juntos na cordialidade, de compartilhar com naturalidade o que somos e o que não somos, o que temos e o que não temos e, finalmente, de sentir o coração satisfeito[1].



[1] COLOMBERO, Giuseppe. Vida religiosa da convivência à fraternidade. São Paulo: Paulus, 2003, p. 12,13.

23/12/2014

1.Viver em sociedade: um direito natural

SÃO PAULO APÓSTOLO: 1Que os homens nos considerem como servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus. 2Ora, o que se espera dos administradores é que eles sejam dignos de confiança(1 Cor 4,1-2).

BEM-AVENTURADO TIAGO ALBERIONE: O homem é naturalmente ordenado por Deus a viver em sociedade. Com efeito, não poderia viver no isolamento, já que sozinho não é capaz de alcançar o seu aperfeiçoamento físico, moral e intelectual. Deus deu ao homem a inclinação a superar a sua insuficiência associando-se aos outros, seja na vida doméstica quanto na vida civil e religiosa. E este é um direito natural, que ninguém pode violar.

REFLEXÃO: Cada homem é um pouco de mim mesmo, porque faço parte da humanidade. Cada cristão é uma parte do meu próprio corpo, porque somos membros de Cristo. Tudo o que faço, é feito também para eles, com eles e por eles. Tudo o que fazem, fazem em mim, por mim e para mim também. Mas cada um de nós fica responsável pela sua parte na vida do corpo total. Nada, absolutamente, tem sentido, a menos que admitamos, com John Donne, que ‘homem algum é uma ilha completa em si mesma; todo homem é um fragmento do continente, uma parte do oceano’[1].



[1] MERTON, Thomas. Homem algum é uma ilha. Tradução: Timóteo Amoroso Anastácio. Campinas: VERUS, 2003, p.18

27/07/2014

Nossa palavra é comunicação (?)

"É necessário viver de Deus para comunicar Deus"

Esse belo pensamento de Pe. Alberione resume, em certo sentido, o que significa ser paulino, o que significa ser um apóstolo da comunicação frente a tantas mudanças e desafios do mundo contemporâneo.
"Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho!", nos diz Paulo. Anunciar com palavras, imagens, com a técnica e com "os meios mais rápidos e eficazes". Sim. Com todas as ferramentas indispensáveis ao apostolado. Mas não só! Como sabemos, a técnica por si não basta, é "insuficiente" como o é, em si mesmo, também o homem. Anunciar antes, e sobretudo, com a vida, com o testemunho, com a oração. Contudo, aquele que ousa conduzir as almas a Deus confiando somente no poder da retórica ou num dinamismo meramente humano, jamais acontecerá na vida das pessoas a metanoia, da qual o Pe. Alberione nos fala; quando muito suscitará uma alegria eufórica e efêmera, sem frutos duradouros, o que não é, de fato, "comunicar Deus".

No entanto, qual a prova ou os sinais de que "vivemos de Deus, de que comunicamos Deus?".  Podemos citar pelo menos três sinais (que a maioria de nós pratica quase que diariamente): comungar o Corpo de Cristo, ouvir sua Palavra, adorá-lo na Eucaristia. Tudo isso é suficiente? A epístola de Tiago nos ajuda a responder: "Que interessa se alguém disser que tem fé em Deus, e não fizer prova disso através de obras?".

O primeiro mestre dizia que "a Bíblia e a Eucaristia formam o apóstolo paulino. São coisas inseparáveis no coração missionário". Assim, a Comunhão, a Palavra, a adoração e todas as demais práticas de fé precisam, de alguma maneira, refletir na nossa vida cotidiana, seja na arte de conviver, criar, difundir, comunicar, ou mesmo na prática do autodomínio e do silêncio (que também é comunicação). Viver de Deus, como percebemos, vai muito além de comungar todos os dias. Da Comunhão deve nascer o impulso e o entusiasmo. Para tanto, precisamos nos  perguntar diariamente:
Quais os frutos dessa Comunhão? Em que medida conseguimos refletir o rosto de Deus em nossas ações? Essa comunhão diária está nos fazendo avançar novos degraus na vida espiritual e humana? Há reflexo do Cristo-Comunhão, também na nossa maneira de gerir e liderar?
Portanto, o segredo de "comunicar Deus", como vemos, é muito mais exigente do que possamos imaginar. Nessa arte, o Padre Tiago Alberione foi mestre. Não apenas porque estudou a técnica do "como fazer?", mas porque, primeiramente, ele se perguntou "como rezar?". Não basta imprimir, gravar, locutar, compartilhar... É preciso dar Alma e Espírito ao apostolado. Isso significa dar Cristo como o fizeram o Apóstolo Paulo e Maria. Se assim não o fosse, não haveria necessidade de uma comunidade de irmãos, de "Religiosos Apóstolos", como nos diz o Fundador; bastaria apenas um grupo de leigos, redatores, técnicos, funcionários, como nos inícios da missão paulina.

Mas, o padre Alberione foi além, não se contentou em permanecer à margem do lago, ele avançou, não obstante todas as suas fragilidades, para "águas mais profundas. Quando Alberione afirmou que a comunicação social "não é tarefa para amadores, mas requer maior espírito de sacrifício e piedade mais profunda", ele está dizendo o quê? Que é preciso ser bons comunicadores? Também. Mas não só! Ele quer nos alertar, sobretudo, que é necessário "o homem TODO para um amor total a Deus"; caso contrário, a nossa missão não será fecunda; e que "se um dia não houver mais a preocupação pela santidade e nossas casas se tornarem só indústria e comércio, devem ser destruídas".

Ó MESTRE, vós que sois o maior comunicador de Deus no seio da humanidade, concedei-nos o dinamismo e a profundidade necessárias à nossa missão de viver e comunicar o Amor.



Referências ABAIXO...

21/07/2014

Conhecer o Fundador para conhecer e amar o Carisma

A vida de Padre Alberione esconde as marcas de Cristo; suas dores e sofrimentos. Mas, o frágil e audacioso profeta nunca desanimou nem desistiu de realizar a vontade de Deus. Quando começamos a lê-lo percebemos a imensidão de seu amor pela criatura humana e pelo Mestre Jesus. Mas, para quê conhecer Alberione e não Paulo e o próprio Jesus Cristo? É simples! A história e a vida de Pe. Alberione, além suscitar um profundo amor pela missão, nos leva a amar ainda mais o Apóstolo e também o Cristo. Ambos estiveram presentes em cada empreendimento e em cada traço da vocação do Bem-Aventurado.
"A palavra escrita e a palavra falada,
a pública e a particular: que seja a palavra
 de Paulo e aquela de Cristo", dizia o profeta da comunicação.

Contudo, enquanto nós, que almejamos o carisma paulino, não nos convencermos da importância de conhecer ao máximo a história carismática do fundador, de modo a deixar-nos cativar por ele e a nos apaixonar por seus ideais, dificilmente compreenderemos, com clareza, o que quer dizer "evangelizar na cultura da comunicação".

Como nos ensina o próprio Alberione, "o amor abre os olhos! Quem não ama, não conhece. Para amar é preciso conhecer". Conhecer o idealizador de um projeto é fundamental para compreender, viver e difundir "seu" ideal. Quem não alimenta curiosidade e amor  pela história de sua congregação, naturalmente, correrá o risco de desviar-se do caminho primeiro, daquele indicado por Deus nos inícios da fundação. Nisto, há o perigo de "escrever" uma nova história, sem antes ter conhecido aquela já existente, "ditada" pelo próprio Espírito Santo ao Fundador.

29/06/2014

Alberione: entre a pausa e a pressa

É incrível como Pe. Alberione conseguiu compreender o valor da pausa e da pressa em sua arte de comunicar o Evangelho. Se por um lado, ele tinha urgência de salvar almas, por outro, ele sabia que pausa e silêncio eram elementos essenciais para o fortalecimento da missão. Não um silêncio vazio e infértil, mas profundo e pleno de sentido. Alberione sabia que o ardente desejo de levar Deus às pessoas poderia se tornar utópico, caso não partisse do ponto certo; foi por isso que escolheu começar da Eucaristia, da verdadeira Fonte, que é o próprio Cristo. Ele não poderia, de maneira alguma, aperfeiçoar a técnica sem refinar a vida interior. E nisto ele foi um mestre. Para ele, espiritualidade e comunicação sempre andaram de mãos dadas, caso contrário, não haveriam frutos. Para Alberione, nada justificava dizer: "não tive tempo de rezar".
"Poderá surgir a tentação: estou com muito trabalho; mas o principal trabalho para você, a obrigação maior para um sacerdote, a principal contribuição para a Congregação é a oração. Iludido, quem, sabe, alguém tente justificar sua pouca oração dizendo que anda muito ocupado. Será mesmo este o verdadeiro motivo? Ou, quem sabe, não se está sobrecarregado de trabalho, precisamente porque não se antepõe a oração que ajudaria a desempenhar mais rapidamente as outras ocupações? Ocupações? Mas a Igreja, a Congregação, a nossa alma nos pedem antes a oração e depois o resto, enquanto nos for possível. Ocupações? Sim, mas as outras não são urgentes senão depois da oração. Ocupações? Mas a vida das outras obras é a graça, por isso sem oração nossas almas serão mortas. “Maldito o estudo, o apostolado, etc. pelo qual se abandona a oração!”.
Já em seus primeiros anos de seminário, ressalta Rolfo, "era visto na Igreja com maior frequência que os outros". Mais tarde, Alberione vai colocar como meta pessoal quatro horas de oração diária. O que o fazia seguir um rigor espiritual tão exigente? "A messe era grande" e sem uma profunda e autêntica vida interior seria impossível responder às necessidades da época. Alberione estava convicto: antes de qualquer ação apostólica, era necessária uma pausa para contemplação, adoração, oração.
"O trabalho sem a oração é para o sacerdote como “o címbalo que soa”, isto é, coisas que impressionam, exteriormente, mas não possuem nem merecimentos. O nosso ministério é, por sua natureza, sobrenatural tanto na base como em sua substância e constituição. Não tem direito de mandar quem antes não tiver obsequiado a Deus; Não pode aconselhar ou pregar quem não tiver recebido a luz de Deus; e, no que depende dele, não educa para a vida sobrenatural, quem não a vive plenamente. Para cada ação apostólica asseguremos uma fervorosa contribuição de oração".
 Vivemos hoje num mundo apressado e sem pausas, onde todos reclamam por tempo. E se esse profeta da comunicação vivesse hoje...Ele teria tempo para rezar? Conseguiria conciliar a correria do apostolado com o silêncio contemplativo? Certamente que sim, e ainda lhe sobraria tempo, afinal de contas, uma coisa que Alberione sabia fazer com maestria era administrar cada precioso minuto de sua existência. O tempo lhe era tão inestimável, que mesmo antes de começar a ler um livro, costumava perguntar-se em que aquela leitura lhe poderia ser útil (apostolicamente falando). Ele nunca foi de gastar sua vida com coisas que não tivessem um sentido ou uma meta mais ou menos clara; Alberione sabia o que era viver do essencial.

Se vivesse hoje, neste mundo de barulho e rapidez, certamente sua máxima seria esta: 
“Uma pausa, então? Sim, necessária. Porém, não ociosa, mas para reforçar a plataforma de lance, levantar melhor o voo, redobrar as forças, estabelecer definitivamente a vida em Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida, orientar os corações, para onde estão os verdadeiros bens..., avançar sobre a proteção da Rainha dos Apóstolos, trilhar os caminhos de São Paulo em santidade e apostolado".

20/06/2014

Alberione: Místico ou Comunicador? (2)

A vocação de Pe. Alberione não surgiu de uma experiência isolada ou meramente intimista, mas nasceu num contexto de inquietações e conflitos de uma sociedade sedenta por paz e libertação. Entretanto, poderíamos nos perguntar, onde está a mística disso tudo? Recorremos aqui a uma afirmação esclarecedora de um estudioso da mística, o italiano Marco Vannini:

“Uma das acusações que se faz – ou que se fazia – mais frequentemente à mística é a de por o homem em uma dimensão totalmente interior, separada do mundo, da história, do convívio humano, da política, ou, dito em poucas palavras, em uma dimensão abstrata, de fuga da vida real (“fuga mundis”). Aliás, neste sentido, é justamente o contrário, pois riqueza e profundidade interior desembocam sempre, naturalmente, na ação. A história está cheia de figuras de místicos que foram homens (e mulheres) de contemplação e, ao mesmo tempo, fortemente ativos em seu tempo[7]”.
Nesta mesma perspectiva, quem conheceu Pe. Alberione, ou mesmo quem procura adentrar as entrelinhas de sua inspiradora história, bem sabe que nele, a expressão “ora et labora[8]” cumpria-se fielmente. Era um homem prático, decidido, vivaz e um comunicador incansável... Tudo isso porque, antes, se fez “amigo” de Deus. A intimidade com Deus era o que dava sentido ao seu apostolado e à sua maneira de comunicar o Amor. Nada fazia sem o auxílio divino e sem a poderosa intercessão de Maria Rainha dos Apóstolos. Sobre a necessidade da vida interior, ele afirmava: “A principal obrigação do homem, do cristão, do religioso e do sacerdote é a oração. Para cada ação apostólica asseguremos uma fervorosa contribuição de oração. A oração antes de tudo, acima de tudo, vida de tudo”.

Místico ou comunicador, o fato é que, ninguém ousaria acreditar que aquele homem, “que mais parecia um diretor de almas do que um fundador” pudesse um dia tornar-se “um dos homens de igreja mais dotados de carisma do século XX”. Onde ele encontrava força para superar o sofrimento físico e continuar sua obra até os últimos dias de sua vida? De onde vinha o dinamismo para difundir o Evangelho com os meios de comunicação social? Da Eucaristia. Da Palavra de Deus. Da entrega total. Afinal, “o Espírito é que vivifica” (Jo 6,63). Do Cristo Eucarístico emanavam todas as respostas de que Alberione precisava para realizar a missão a ele confiada, inclusive em sonhos: “Não temam: eu estou com vocês. Daqui quero iluminar! Tenham dor dos pecados[10]”.

Portanto, em Alberione, mística e comunicação são duas vias inseparáveis. A experiência mística é, portanto, base e fundamento apostólico, sem a qual toda comunicação torna-se frágil e vazia de significado. Para Pe. Alberione, uma coisa era clara: antes do anúncio da Palavra eram necessárias a meditação, a adoração, o silêncio. Não o silêncio infértil, mas criativo, fecundo, capaz de gerar verdadeira comunicação. Como afirmou Bento XVI, “o silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo”. Sem a dimensão mística, as técnicas são insuficientes, incapazes de transformar e sacralizar a realidade. Como diz São Paulo, “se a sua linguagem não se exprime em palavras inteligíveis, como se poderá compreender o que vocês dizem? Estarão falando ao vento (Cf. 1Cor 14,9).
“Comunicar, rezar e viver integram-se formando um todo tanto no estilo e na elaboração da mensagem, quanto na forma de comunicar. A mística do comunicador está relacionada com seu processo criativo, sua busca por informações, seu modo de interpretar os fatos, de inovar a linguagem e buscar outros estilos de comunicar. O comunicador é um místico, e o místico é um comunicador” [11].

18/06/2014

Alberione: Místico ou Comunicador? (1)


“Criado à imagem e semelhança de Deus, o ser humano se comunica não por uma exigência, mas por um dom natural; não por uma ordem, mas por uma vocação”
(Diretório de comunicação da Igreja no Brasil, 99, 2014)
.
Padre Alberione é comumente conhecido como o “profeta da comunicação”, como de fato o foi. Entretanto, não será este o aspecto prioritário de nossa abordagem. Queremos, antes, voltar o nosso olhar sobre o homem interior, o Alberione sempre aberto à ação do Espírito, pois, “a comunicação não é simplesmente uma ação externa, técnica e sistemática... É a expressão do amor maior. Na intimidade do encontro pessoal do comunicador com o Criador, a comunicação lança suas raízes na verdadeira e inesgotável fonte de onde emana o sentido profundo dessa mensagem comunicativa [1]”. Neste sentido, tentaremos mostrar de que maneira o Pe. Alberione experimentou Deus e até que ponto podemos falar da relação entre mística e comunicação a partir de sua experiência cotidiana.

Antes, porém, de retratar o Alberione comunicador é indispensável observar elementos outros que antecederam a esta sua forma particular de evangelizar. Algo que não podemos esquecer é que, muito antes de ser o líder religioso, ele foi o menino simples e humilde da lavoura, que cuidou dos animais e que segurava a “lamparina” enquanto os pais aravam a terra no decair da noite. Foi neste contexto de simplicidade que ele aprendeu que “as obras de Deus devem começar do nada, em absoluta pobreza, como na gruta de Belém”. Em razão desta realidade, os temas do desapego, da humildade e da confiança na providência divina são sempre recorrentes nos escritos de Pe. Alberione.

Para Pe. Alberione, “Cristo, mente perfeita, sentimento perfeito, vontade perfeita tornou-se para o homem causa exemplar e causa de comunicação; assim, o homem torna-se por Cristo, com Cristo, em Cristo a mais sublime personalidade”. Alberione, profundamente motivado pelas palavras de Paulo, “não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”, vai buscar assumir autenticamente, e durante toda vida, a personalidade de Jesus Cristo caminho, verdade e vida. “Penso em Jesus Cristo, amo em Jesus Cristo, quero em Jesus Cristo”, afirmava com muita convicção.

A vida espiritual de Pe. Alberione não se restringe, de maneira alguma, a uma ou duas experiências de “êxtases”, mas foi uma vida inteira doada e sentida no amor misericordioso de Deus. Começou em casa, desde menino, sobretudo com o fiel exemplo de sua mãe, a quem sempre cultivou particular afeto. No entanto, um episódio marcante e decisivo em sua vida ocorreu aos 16 anos, quando este já era seminarista. Nessa época, 1900, Leão XIII era o papa. Este afirmava sempre: “A salvação de toda humanidade só pode vir de Cristo”. Tais palavras inquietavam o coração do jovem Tiago, de modo que seu interior era sacudido pelos angustiantes problemas sociais, econômicos e políticos. Na virada do século, após permanecer por quatro horas em oração diante do Santíssimo Sacramento, exposto na Catedral de Alba, Alberione “sentiu-se profundamente obrigado a preparar-se para fazer alguma coisa pelo Senhor e pelas pessoas do novo século”. Alberione se sente profundamente tocado pelo Divino Mestre e abandona-se “todo” – mente, vontade e coração – aos apelos de Deus.

Ali, naquela noite especial, ele parece ter compreendido, de fato, a grandeza do chamado de Deus para sua vida: “se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz, e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la” (Mt 16,24-25). Seu chamado se confirma num autêntico diálogo com Cristo Eucarístico. Jesus anima-o: “eu estou com você”. Realiza-se aí uma profunda experiência de amor, do qual Alberione faz-se “prisioneiro fiel” até o fim da vida. Quem ama, naturalmente, não consegue guardar para si o amor que sente, pois é próprio do amor querer expandir-se e revelar-se. Como afirma o papa Francisco, “se alguém acolheu este amor que lhe devolve o sentido da vida, como é que pode conter o desejo de o comunicar aos outros[2]?”.

“Revestido do amor, que é o vínculo da perfeição” (Cl 3,14), o jovem Tiago, sente o desejo de comunicar a Boa-Nova de Jesus com os meios mais modernos e eficazes. Mais tarde ele vai perceber concretamente os frutos da semente lançada em seu coração naquela luminosa noite; depois de ser ordenado sacerdote, Alberione dá origem a uma grande família, ou como ele costumava dizer, “uma grande árvore” com dez ramos, da qual os Padres e Irmãos Paulinos, fundados em 1914, são o primeiro ramo. “Quem acredita em mim fará as obras que eu faço, e fará maiores do que estas” (Jo 14, 12), disse Jesus.

Embora não exista nenhum tratado das experiências espirituais de Pe. Alberione – pois ele próprio não tinha o hábito de relatá-las nem tampouco gostava que o considerassem um ascético – ele foi um homem de profunda interioridade e raro equilíbrio, como vai afirmar Pe. Roatta[3]: “cultivava um caráter tenaz e voluntarioso, fiel a si mesmo, aos seus princípios e as suas modalidades do alvorecer ao crepúsculo[4]”. O Papa Paulo VI também demonstrou particular apreço à sua firme personalidade: “Ei-lo humilde, silencioso, incansável, recolhido nos seus pensamentos, que passam da oração à obra, sempre atento a perscrutar os sinais dos tempos”.

As inúmeras orações compostas por Pe. Alberione (como legado para suas fundações) revelam a profundidade com que ele viveu sua missão. Com linguagem fortemente espiritual, as orações apresentam características próprias de quem, ao reconhecer a imensurável grandeza de Deus, “humilha-se a si mesmo” e, sem temor, assume suas fragilidades e insuficiência perante seu Criador: “somos fracos, ignorantes, incapazes e insuficientes em tudo – no espírito e na cultura, na missão e na pobreza[5]”. Tamanha humildade, contudo, não seria reflexo de verdadeira experiência mística? Como diz São João da Cruz, “estando a alma naquele excesso de altíssima sabedoria de Deus, toda a sabedoria humana torna-se evidentemente baixa ignorância[6]”.

06/06/2014

Alberione e o sonho que não era seu

Você teria coragem de doar toda sua vida por um sonho que não lhe pertence?Dedicar todo seu tempo, forças físicas e renunciar a si mesmo por um ideal que não é seu?
Complicado, não?!
Pe. Tiago Alberione fez exatamente isso! E o fez com muita confiança e ousadia. Como afirmou o Papa Francisco, “se alguém acolheu este amor que lhe devolve o sentido da vida, como é que pode conter o desejo de comunicá-lo aos outros?" Isso é verdade: quando o sonho nasce de uma profunda experiência de amor, não há quem consiga guardá-lo para si. E quem o tentar, não conseguirá por muito tempo. Ainda mais quando o sonho é de DEUS...!
Sim, Alberione era só um menino de 16 anos... Mas NÃO teve medo de realizar "plenamente" o sonho de Deus para sua vida. E é graças à sua coragem que hoje, também eu, posso SONHAR UM SONHO QUE NÃO É MEU.

02/06/2014

Alberione e o Amor-Comunicação

A missão paulina no mundo nasceu de uma profunda experiência de amor. Quem ama, naturalmente, não consegue guardar para si o amor que sente, pois é próprio do amor querer expandir-se e revelar-se.
“Se alguém acolheu este amor que lhe devolve o sentido da vida, como é que pode conter o desejo de o comunicar aos outros? (Evangelii Gaudium, 8)”.
Foi mais ou menos assim com o jovem Tiago Alberione. Era 31 de dezembro de 1900 e Tiago tinha apenas 16 anos quando, diante do Santíssimo Sacramento, na Catedral de Alba, Itália, teve uma experiência pessoal com Jesus Divino Mestre. E, depois daquela noite especial, as coisas tornaram-se mais claras para ele: “sentiu-se profundamente obrigado a preparar-se para fazer alguma coisa pelo Senhor e pelas pessoas do novo século”.

“Revestido do amor, que é o vínculo da perfeição” (cf. Cl 3,14), Alberione não consegue ficar quieto ou indiferente perante os inúmeros problemas sociais, econômicos e políticos da época. Mais tarde, surge em seu coração um forte desejo de propagar o amor e a Boa Notícia de Jesus com os meios de comunicação, para tanto precisaria dedicar-se ardorosamente à vida acadêmica. Não obstante sua pouca experiência, Alberione já entendia que os mesmos meios que difundiam o mal (imprensa, rádio, cinema...) poderiam ser utilizados para propagar o bem. Eis sua grande meta e inquietação. Com 23 anos de idade o jovem Tiago é ordenado padre. No ano seguinte, em Gênova, torna-se doutor em Teologia.

Mais tarde, 1913, a pedido do bispo local de Alba, Pe. Alberione assume a direção do jornal diocesano Gazzetta D’Alba, função esta que vem reforçar e viabilizar o seu desejo de evangelizar com os meios mais modernos, a fim de alcançar não somente aqueles que frequentam as igrejas, mas também, e de modo especial, as pessoas que estão afastadas da fé cristã. E assim, nele se cumpre o desejo de Deus.

Imbuído pelo forte testemunho e espírito do Apóstolo Paulo, Alberione inicia, em 1914, “seu” grande projeto de evangelização dando início, portanto, à sua primeira fundação religiosa, a Pia Sociedade de São Paulo.
“Toda a experiência autêntica de verdade e de beleza procura, por si mesma, a sua expansão; e qualquer pessoa que viva uma libertação profunda adquire maior sensibilidade face às necessidades dos outros. E, uma vez comunicado, o bem radica-se e desenvolve-se. Por isso, quem deseja viver com dignidade e em plenitude, não tem outro caminho senão reconhecer o outro e buscar o seu bem (Evangelii Gaudium, 9)”.
Padre Alberione foi um homem incansável na luta pela vivência e difusão do Evangelho de Cristo. Tinha enorme sede de levar Deus às almas e as almas a Deus, e fazia-o segundo os ensinamentos de São Paulo, “já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (cf. Gl 2, 20). Embora de saúde sempre muito frágil, não se deteve pela dor e o sofrimento, mas soube transformar tudo em profunda experiência de amor e doação ao Reino de Deus.

Pode-se dizer, portanto, que todas as fundações e obras realizadas por Pe. Alberione só foram possíveis porque “tudo o que fazia, em palavra ou em ação, fazia-o em nome do Senhor Jesus” (cf. Cl 3,17).

29/05/2014

De onde deve partir a comunicação paulina?

Quando um jovem começa acompanhamento conosco é comum acontecer, logo de cara, certo encantamento pelo nosso carisma, certamente pelo seu caráter dinâmico e sua inserção no mundo contemporâneo. Ao entrar para a Congregação, talvez um dos primeiros desejos seja o de comunicar, utilizar as ferramentas e os meios. Entretanto, não podemos esquecer-nos de algo fundamental que deve, necessariamente, anteceder a arte da comunicação: o “preparar-se”. Nisto, não estou me referindo à preparação técnica (pelo menos não como fundamento), mas à mística, esta que deve ser a “alma” da nossa comunicação.

Àqueles que buscam ser paulinos comunicadores, Alberione alerta:
“Educai-os a rezar e extrair dos Sacramentos da penitência e da Eucaristia aquilo que a natureza não pode dar, a força para não cair, a força para ressurgir; sintam, desde jovens, que sem o auxílio destas energias sobrenaturais eles não conseguirão ser nem bons cristãos, nem simplesmente homens honestos (Alma e Corpo pelo Evangelho, p.257).”
Mas, nossa missão não é comunicar? Sim, “evangelizar na cultura da comunicação”. Aqui podemos dizer que a técnica ou o método utilizado exercem particular importância, entretanto, não é o ponto de partida da comunicação realmente eficaz (pelo menos não em sentido Cristão). Comunicar sim, mas o quê? Eis a questão! Esse “o quê” compete à mística potencializá-lo. Neste sentido, sem uma espiritualidade sólida, embasada e formada em Cristo, a comunicação humana torna-se frágil e “insuficiente em tudo”.

Muitos autores falam do silêncio de Deus na Criação, esse silêncio divino que nos remete ao nada. Ou seja, Deus que, antes de conceber sua obra criadora, faz uma pausa silenciosa e criativa. Cristo, antes de realizar seus maiores feitos e milagres, recolhe-se na intimidade com o Pai. Assim, também, deve esforçar-se por ser o paulino comunicador, antes de tudo espiritual. Sobre a vida interior afirma Pe. Alberione: “A principal obrigação do homem, do Cristão, do religioso e do sacerdote é a oração. Não poderemos dar nenhuma contribuição melhor para a Congregação do que a oração”. Esta deve ser a base e a alma de todo nosso comunicar. “A oração, portanto, antes de tudo, acima de tudo, vida de tudo”. Sem ela, todo nosso dizer se faz ruído no coração humano e não realiza sua função transformadora.


Que os perigos da pressa e do encanto pelos meios não nos afastem da “mística da comunicação”. Não obstante às preocupações e necessidades apostólicas, que saibamos priorizar o tempo para a meditação e para aquela pausa renovadora, conforme indica o Pe. Alberione:
“Uma pausa, então? Sim, necessária. Porém, não ociosa, mas para reforçar a plataforma de lance, levantar melhor o voo, redobrar as forças, estabelecer definitivamente a vida em Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida, orientar os corações, para onde estão os verdadeiros bens”. 

Dessa pausa silenciosa e, ao mesmo tempo, dinâmica e criadora, deve fundamentar-se a nossa missão, o nosso apostolado.

Que Maria, mulher da contemplação e da ação, aquela que soube dar ao mundo o Melhor de si (Jesus Cristo), ajude-nos a oferecer às pessoas, sempre com maior profundidade, o Verbo feito Palavra comunicada.

28/05/2014

Alberione: Um sim decidido

Quando Jesus pregava e ensinava na sinagoga, muitos ficavam admirados e diziam: “De onde vem essa sabedoria e esses milagres? Esse homem não é o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria?” (Mt 13, 55).
 
O mesmo espanto e admiração que as pessoas tiveram ao ver os feitos de Jesus, “pobre menino nascido numa manjedoura”, haveriam de ter se conhecessem a apaixonante história e o legado de padre Tiago Alberione. Certamente diriam entre si: “Este, por acaso, não é o filho de Tereza e Miguel, aquele menino franzino, que cuidava das terras e dos animais em sua infância, cujos pais receavam que não pudesse viver por muito tempo?”.

De fato, quem ousaria acreditar que aquele “homem debilitado, magro e enfermiço, que mais parecia um diretor de almas do que um fundador” pudesse um dia tornar-se “um dos homens de igreja mais dotados de carisma do século XX”. Foi exatamente assim na história de Alberione. Não obstante suas fragilidades e penosas lutas, jamais se deteve ante os inúmeros desafios. Mais tarde, ele mesmo vai reconhecer que “a única derrota da vida é desanimar diante das dificuldades”.

Para esse admirável profeta da comunicação, as coisas nunca se apresentaram de maneira fácil, a começar pelas necessidades no seio familiar. Nasceu num “ambiente de trabalho e pobreza, sem enfeites nas portas, sem cartões de participação e sem cartas de parabéns”. Desde sua mais tenra infância, Tiago teve de aprender a conviver com o sofrimento que, não poucas vezes, lhe doía na carne, todavia, em seu coração nunca houve espaço para lamentos ou murmuração.

Desde muito cedo, o menino Alberione parecia sentir em seu íntimo a grandeza do projeto divino para sua vida. Antes mesmo de completar oito anos de idade, ao ser interrogado por sua professora sobre o que seria no futuro “Ele, resolutamente, responde: vou ser padre!”. E assim se cumpriu o desígnio de Deus.

Toda sua história foi marcada por uma simplicidade peculiar, contudo, sempre cultivou enorme gratidão ao Senhor da messe por tudo quanto realizava em sua vida. Das necessidades materiais aprendeu o valor da providência divina, do desapego e da liberdade interior. Como ele próprio vai afirmar, em Santificazione della mente, 1956, “é preciso sermos concretos na vida: o pouco, o simples, o pouquinho cada dia”. Foi dessa pequenez de alma que Deus se utilizou para fazer de Alberione um grande visionário da comunicação, um místico entre a oração e a prática, um profeta dos novos tempos.

Há 100 anos, o “primeiro mestre” dava seu sim a Deus, seguido de um extraordinário exemplo de persistência, entrega e inestimável confiança na vontade do Pai. Com seu admirável testemunho, Alberione motiva seus seguidores a fazerem o mesmo: “possuímos dentro de nós enorme energia quando há um quero sincero, sentido, decidido”.

Que Jesus Mestre Caminho, Verdade e Vida, conceda-nos a graça de uma fé inquebrantável e de um espírito sempre orante, a fim de darmos continuidade a essa grande obra de Deus sonhada por Pe. Tiago Alberione!