20/06/2014

Alberione: Místico ou Comunicador? (2)

A vocação de Pe. Alberione não surgiu de uma experiência isolada ou meramente intimista, mas nasceu num contexto de inquietações e conflitos de uma sociedade sedenta por paz e libertação. Entretanto, poderíamos nos perguntar, onde está a mística disso tudo? Recorremos aqui a uma afirmação esclarecedora de um estudioso da mística, o italiano Marco Vannini:

“Uma das acusações que se faz – ou que se fazia – mais frequentemente à mística é a de por o homem em uma dimensão totalmente interior, separada do mundo, da história, do convívio humano, da política, ou, dito em poucas palavras, em uma dimensão abstrata, de fuga da vida real (“fuga mundis”). Aliás, neste sentido, é justamente o contrário, pois riqueza e profundidade interior desembocam sempre, naturalmente, na ação. A história está cheia de figuras de místicos que foram homens (e mulheres) de contemplação e, ao mesmo tempo, fortemente ativos em seu tempo[7]”.
Nesta mesma perspectiva, quem conheceu Pe. Alberione, ou mesmo quem procura adentrar as entrelinhas de sua inspiradora história, bem sabe que nele, a expressão “ora et labora[8]” cumpria-se fielmente. Era um homem prático, decidido, vivaz e um comunicador incansável... Tudo isso porque, antes, se fez “amigo” de Deus. A intimidade com Deus era o que dava sentido ao seu apostolado e à sua maneira de comunicar o Amor. Nada fazia sem o auxílio divino e sem a poderosa intercessão de Maria Rainha dos Apóstolos. Sobre a necessidade da vida interior, ele afirmava: “A principal obrigação do homem, do cristão, do religioso e do sacerdote é a oração. Para cada ação apostólica asseguremos uma fervorosa contribuição de oração. A oração antes de tudo, acima de tudo, vida de tudo”.

Místico ou comunicador, o fato é que, ninguém ousaria acreditar que aquele homem, “que mais parecia um diretor de almas do que um fundador” pudesse um dia tornar-se “um dos homens de igreja mais dotados de carisma do século XX”. Onde ele encontrava força para superar o sofrimento físico e continuar sua obra até os últimos dias de sua vida? De onde vinha o dinamismo para difundir o Evangelho com os meios de comunicação social? Da Eucaristia. Da Palavra de Deus. Da entrega total. Afinal, “o Espírito é que vivifica” (Jo 6,63). Do Cristo Eucarístico emanavam todas as respostas de que Alberione precisava para realizar a missão a ele confiada, inclusive em sonhos: “Não temam: eu estou com vocês. Daqui quero iluminar! Tenham dor dos pecados[10]”.

Portanto, em Alberione, mística e comunicação são duas vias inseparáveis. A experiência mística é, portanto, base e fundamento apostólico, sem a qual toda comunicação torna-se frágil e vazia de significado. Para Pe. Alberione, uma coisa era clara: antes do anúncio da Palavra eram necessárias a meditação, a adoração, o silêncio. Não o silêncio infértil, mas criativo, fecundo, capaz de gerar verdadeira comunicação. Como afirmou Bento XVI, “o silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo”. Sem a dimensão mística, as técnicas são insuficientes, incapazes de transformar e sacralizar a realidade. Como diz São Paulo, “se a sua linguagem não se exprime em palavras inteligíveis, como se poderá compreender o que vocês dizem? Estarão falando ao vento (Cf. 1Cor 14,9).
“Comunicar, rezar e viver integram-se formando um todo tanto no estilo e na elaboração da mensagem, quanto na forma de comunicar. A mística do comunicador está relacionada com seu processo criativo, sua busca por informações, seu modo de interpretar os fatos, de inovar a linguagem e buscar outros estilos de comunicar. O comunicador é um místico, e o místico é um comunicador” [11].


[1] Diretório de comunicação da Igreja no Brasil, 2014, n.38, n.52.
[2] Evangelii Gaudium, 8
[3] Sacerdote Paulino e contemporâneo de Pe. Alberione.
[4] ROATTA, João. Jesus Mestre Caminho Verdade e vida. São Paulo: ed. Paulinas, 1976, p.6.
[5] Pacto ou segredo de êxito.
[6] Cântico espiritual, Canção XXVI, 13. São Paulo, EP, 1980, p.183.
[7] VANNINI, Marco. Introdução à mística. São Paulo, Edições Loyola, 2005, p.19.
[8] Reza e trabalha.
 [9] Estas palavras reveladas a Pe. Alberione permanecem, até hoje, escritas em todas as capelas paulinas.
[10] Diretório de comunicação da Igreja no Brasil, 2014, n.61. 

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